sexta-feira, 21 de março de 2008

BDNF é essencial para manutenção de memórias de Longa Duração

Em um elegante experimento cientistas demonstraram que a molécula BDNF (Brain-derived neurotrophic factor) é essencial para a manutenção de memórias duradouras.
Ratos foram treinados na tarefa de esquiva inibitória** (modelo clássico para o estudo de memória) e após o treino receberam infusão de anisomicina (ANI) - inibidor de síntese protéica - o que faz com que os animais não produzam nenhuma proteína e , consecutivamente, nao apresentam memória, visto que para a formação de uma memória a sintese protéica é necessária - conforme inúmeros trabalhos anteriores. A injeção concomitante de ANI com a molécula BDNF reverteu completamente o efeito amnésico da ANI em animais testados (momento da lembrança da tarefa) sete dias depois de dia do treino (aprendizagem da tarefa), no entanto a injeção de BDNF não reverteu a amnésia causada pela inibição da sintese protéica em animais testados 2 dias depois do treino.
O BDNF se mostrou necessário para manutenção de memórias duradouras e não para memória nao tão duradouras.

Em outro experimento do mesmo trabalho os animais receberam dois treinos diferentes um mais forte (choque me 0,7 mA) e outro mais fraco (choque de 0,4 mA). nesse caso os animais que não receberam BDNF esquecem logo da tarefa , em 4 dias, e os animais que receberam BDNF mantiveram a memória intacta por 7 dias, ou mais (o estudo nao explorou se a memória da tarefa persistiu por mais tempo ainda).
O estudo publicado na revista PNAS, traz mais uma grande contribuição para o entendimento da formação de memórias de longa duração e a molécula BDNF pode ser um alvo para o entendimento de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson.
Outros experimentos foram realizados pelo grupo e estão disponíveis no material complementar
da revista PNAS.

PARA SABER MAIS:

**Esquiva inibitória: é um clássico experimento feito para o estudo da memória, principalmente com ratos. consiste em uma caixa com grades de metal e uma plataforma elevada que não esta em contato com a grade. O animal é colocado na plataforma e após descer com as 4 patas ele recebe um choque, esse procedimento se faz na sessão de treino. No dia anterior, ou conforme seja o desenho experimental desejado, se faz o teste com o animal, no qual ele , novamente, é posicionado na plataforma exatamente como o treino porem sem receber o choque novamente.
O parâmetro medido nesse tipo de experimento é o tempo de permanência na plataforma - local seguro livre de choque, entre os dias de treino vs. teste. Ou seja, se o animal permanecer mais tempo no dia do teste sobre a plataforma do que no dia do treino significa que houve o aprendizado da tarefa.

Wikipédia:


PNAS:

BDNF is essential to promote persistence of long-term memory storage
Pedro Bekinschtein, , Cynthia Katche, Leandro Slipczuk, Janine I. Rossato, Andrea Goldin, Ivan Izquierdo,Jorge H. Medina


domingo, 17 de fevereiro de 2008

Melatonina, peixes e memória



Em um estudo publicado na revista Science, cientistas da universidade de Houston do Departamento de Biologia e Bioquímica, demonstraram que a melatonina (para saber mais sobre a molécula veja links abaixo do texto) pode prejudicar a formação de memórias.

O estudo realizado com peixes ornamentais  (zebrafish) de ciclo biológico ativo diurno, no qual as memórias são melhor formadas durante o dia. O tratamento com melatonina durante o dia mimetiza os déficits cognitivos causados pela noite em vigilia ao passo que treinamento durante a noite, após luz constante , melhora dramaticamente a formação da memória noturna e reduz os níveis de melatonina.

Ao tratar os animais com uma molécula Luzindole ou K-185 - bloqueadora do receptor de melatonina) os animais tiveram uma expressiva melhora na formação de memórias.
o uso da melatonina exógena em humanos alteraria os ritmos biológicos e diminui a eficiência do processamento de memórias no período do sono noturno.

PARA SABER MAIS:


Wikipédia:

Science:

Melatonin Suppresses Nighttime Memory Formation in Zebrafish
Oliver Rawashdeh, Nancy Hernandez de Borsetti, Gregg Roman,* Gregory M. Cahill

Link para o artigo


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Sobre o Blogue

Minha intenção ao criar esse blogue é divulgar os trabalhos recentes e até mesmo saudar trabalhos clássicos das neurociências. Tendo como objetivo central "traduzir" da linguagem científica para termos mais populares sem que os artigos percam a credibilidade bem como qualidade do conteúdo e das informações. Partilho da idéia de muitos colegas, divulgadores da ciência, que a "linguagem não culta" não deve remeter à falta de qualidade na informação, muito pelo contrário. As pessoas que não são do meio científico-acadêmico tem direito de ter acesso às informações e as novas descobertas da ciência através de um meio gratuito e que lhes proporcione além de textos didaticamente compreensíveis, qualidade na informação. Arrisco a dizer que é nosso dever, como pesquisadores - essencialmente os vinculados a órgãos públicos, divulgar o conhecimento produzido com o próprio dinheiro público. Isso é bom para a população e para nós pesquisadores, que tendo a população como "aliada" em nossos projetos, ganharemos mais credibilidade e - por que não - no futuro, mais incentivo governamental para a pesquisa no nosso país.