sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Você quer MESMO ser cientista 2?: Reflexões de um jovem pesquisador.


Não pude deixar de ler e comentar o texto recentemente publicado pela Dra. Suzana Herculano-Houzel, o qual teve boa repercussão nas rede sociais. A questão da ciência brasileira é de longe uma pelas quais mais me interesse e atuo diariamente além, é claro, de minha rotina de bancada como doutorando que sou no momento.
Partilho de todos os pontos negativos apontados pela Professora Suzana, no entanto discordo de alguns pontos e acrescento outras reflexões para manter o debate acesso (a final de contas, tenho certeza que essa foi a intenção do Professora ao produzir essa reflexão, ela está de parabéns!).
Meu ponto principal aqui é não a critica ao sistema de financiamento de pós-graduação e sim a outras questões que acho mais importantes no que se refere à valorização de um cientista.
O Brasil é de longe um dos países que mais investiu em ciência nos últimos anos. Obviamente precisamos melhorar e ampliar, os cortes previstos para os próximos anos são alarmantes! Ressalto que uma visão trabalhista, embora eu já tenha pensado assim, não é aplicável na pós-graduação brasileira e em nenhum país do mundo. A pós-graduação é um processo de formação, no qual, sim trabalhamos e produzimos conhecimento, sem dúvida, mas somos financiados para nos formar também.
Os EUA, pais o qual  os brasileiros tradicionalmente “pagam pau”, têm um sistema muito diferente do nosso. A grande maioria das universidades é privada sendo preciso pagar para fazer pós-graduação lá. Obviamente que existem bolsas de estudos aos melhores e que os orientadores pagam aos alunos utilizando os seus grants, isto é, se houver. Ou seja, caso você não tenha um bolsa de estudos e seu orientador não tenha Grant disponível para te dar um “salário” você irá pagar para fazer seu doutorado. E isso é uma realidade em outros países. O fato é que existem muitas fundações privadas que INVESTEM em jovens talentos e acabam por financiar seus estudos por entender que isso pode gerar algum retorno no futuro e, possivelmente, lucro.É nesse ponto que foco minha argumentação.
O cientista brasileiro, via de regra, segue uma carreira linear e comodista. Entramos numa universidade fazendo IC, mestrado, Doutorado, Pós-doc, e ficamos aguardando um concurso público, normalmente na mesma universidade que estamos vinculados a 10 anos, para nos tornarmos docentes servidores públicos. Muitos “se contentam” com essa posição e ficarão lá para o resto de suas vidas. O Brasil ainda tem essa visão de supervalorização de concursos públicos. É uma blasfêmia imaginar alguém que larga uma profissão no serviço público, as pessoas dizem “ele tinha tudo na mão e jogou fora!”.
Parafraseando o Professor Calixto da UFSC, para todo o grande ganho deve INEVITAVELMENTE  haver um grande risco. E é ai que nossos amigos administradores e economistas estão na nossa frente. Eles não têm medo de riscos, ou seja, de empreender.
Existem milhares de cientistas que estão ricos, já que o ponto principal é “Money que é good nóis não have”. Pego um grande exemplo, o biólogo Craig Venter. Ele é um dos cientistas mais ricos do mundo. Foi o pai do genoma humano e da bactéria sintética. Foi um péssimo aluno na escola, gostava de surfar e “tirar onda com as gatinhas”. Eis que seguiu o mesmo caminho que nós estamos seguindo, doutorado pos-doc e professor de universidade. Paralelamente empreendeu. Arriscou. Montou uma empresa que hoje é um imenso instituto lucrativo nos EUA , o J. Craig Venter Institute. Ressalto que é apenas um exemplo entre outros vários que existem, não no Brasil, infelizmente.
Se existe um ponto muito grande de falha na formação acadêmica brasileira é isso. Não somos ensinados a empreender a arriscar. É tudo muito paternalista. Não amadurecemos para o mercado de trabalho. Somos como adolescentes que moram com os pais, que reclamam o tempo todo, mas não saem de lá por nada, pois a vida lá fora é mais difícil. Temos medo de sair do conforto da casa da “mamãe FAPESP, CNPq, CAPES, etcs”, mas continuamos nela a reclamar.
Somado a isso, existem os “trabalhadores da ciência”, aqueles colegas que estão lá só porque não conseguiram um emprego e “estava rolando uma bolsa na hora”, normalmente reclamam muito das bolsas.
Por isso acho que realmente é essa a pergunta, mas em outra esfera. Você realmente quer ser um cientista? E ser um cientista não é ganhar uma bolsa de pós graduação e fazer um trabalho na bancada. Ser cientista é fazer perguntas e respondê-las com inteligência. Ser cientista é saber empreender também, aliás, especialmente.
O Brasil precisa aprender que é possível lucrar com ciência, em especial os pesquisadores da área da saúde. Fazemos muitas pesquisas que “não servem para nada”, isto é, não vislumbram a mínima aplicabilidade. Os pesquisadores da área de engenharias, ciências agrárias pensam sempre no final - o produto, o serviço. E nós da pesquisa médica brasileira o que temos produzido nos últimos anos para a população?
Concluindo existem outros caminhos do que o serviço público e a academia, mas para isso temos que arriscar a perder tudo, ficar desempregado, tomar bronca de chefe...
Sinceramente, não sei se nós acadêmicos estão preparados para isso.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cannabis Sativa, medicamento que renasce - Professor E. A. Carlini

Segue um aula de ciência e sabedoria com o Professor Carlini um dos maiores e melhores cientistas da história desse país com quem eu tenho a honra de ter tido aula e ter contato constante com essa pessoa fantástica. Eis que compartilho um dos momentos que presenciei ao vivo com essa lensa da ciência. Muitos aplausos ao Grande Mestre Carlini!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Diferente... Como?

Todas as pessoas têm opiniões sobre tudo o tempo todo. Isso é intrínseco da natureza biológica humana: observamos algo, criamos um julgamento baseado em nossas experiências prévias sobre o assunto ou correlatos a ele. Quando se refere a assuntos polêmicos então, nem se fale.

A questão das drogas é sem dúvida um dos temas que habita o hall dos temas polêmicos. Sendo pesquisador da área de drogas estou sempre atento ao tema bem como às diversas opiniões da população sobre ele. E como são diversas!

Tenho meu posicionamento bem claro, sempre me baseando nas evidências científicas do tema, pois não consigo enxergar outra forma de ver a questão que não seja essa, uma forma menos comprometida com a mentira. Entretanto, esse não será mais um texto opinativo sobre o que eu penso que devemos fazer com as drogas, nem quais as melhores formas de tratar um dependente. Quero discutir o que venho observando nos, que chamo aqui, “debates de boteco”. Conversas de família, amigos, salas de aula e afins.

Enfatizando o meu modo de ver, o científico, droga, em seu conceito original, é toda e qualquer substância, natural ou sintética que introduzida no organismo modifica suas funções (aqui copiado ipsis litteris da básica Wikipédia). Nesse sentido é incontestável que TODAS as pessoas usam drogas. Ampliando o conceito, o termo drogas é comumente utilizado para se referir às substâncias, sintéticas ou naturais que possuem efeitos psicoativos causando alteração da percepção e/ou consciência.

Ainda assim, arrisco a dizer que TODOS usam, ou á usaram, drogas. As licitas como café, chocolate, álcool, cigarro, benzodiazepínicos (os “calmantes”), antidepressivos, antipsicóticos; ilícitas naturais ou sintéticas como maconha, cogumelos, cactos, LSD, cocaíana/crack/oxy, ecstasy, entre tantas outras.
Retomando os “debates de boteco”, é engraçado como os usuários de determinado droga (legal ou ilegal) defendem a sua droga ferrenhamente quando em comparação com outra droga, a qual, no juízo de valor dessa pessoa é pior que a que outra usa. Nesse momento surge uma frase constante nesses debates: “ah, mas é diferente!!!”. Explico. Peguemos o clichê da maconha:

- Mas você é contra a legalização da maconha, no entanto você fuma e bebe, ambos são drogas não é mesmo?
 -[olhar de reprovação/indignação] Ah, mas é diferente!!!

Assunto, normalmente, encerrado por um silêncio indignado do lado oposto, mas conformado com a falta de concordância com os seus argumentos.

Avançando, pense nos pró legalização da maconha sendo questionados sobre o crack:

 - Mas você fuma maconha e ela é ilegal, então é a favor da legalização do crack então?
 - [olhar de reprovação/indignação] Ah, mas é diferente!!!

E lá se vai mais uma conversa encerrada.

Convido a todos a avançar mais! Continuem o diálogo de maneira simples, aqui com lacunas para completar para que você adéqüe ao tipo de droga que desejar defender:

- Mas você é contra a legalização da(o)________, no entanto você ________________, não é mesmo?
 -[olhar de reprovação/indignação] Ah, mas é diferente!!!
 - Diferente... Como?
 - ____________________________________________________________________
...
Não vejo a hora de observar os próximos “debates de boteco” e ver essa lacuna completada. Será um avanço no debate, que andam tão rasos ...