domingo, 15 de janeiro de 2012

Diferente... Como?

Todas as pessoas têm opiniões sobre tudo o tempo todo. Isso é intrínseco da natureza biológica humana: observamos algo, criamos um julgamento baseado em nossas experiências prévias sobre o assunto ou correlatos a ele. Quando se refere a assuntos polêmicos então, nem se fale.

A questão das drogas é sem dúvida um dos temas que habita o hall dos temas polêmicos. Sendo pesquisador da área de drogas estou sempre atento ao tema bem como às diversas opiniões da população sobre ele. E como são diversas!

Tenho meu posicionamento bem claro, sempre me baseando nas evidências científicas do tema, pois não consigo enxergar outra forma de ver a questão que não seja essa, uma forma menos comprometida com a mentira. Entretanto, esse não será mais um texto opinativo sobre o que eu penso que devemos fazer com as drogas, nem quais as melhores formas de tratar um dependente. Quero discutir o que venho observando nos, que chamo aqui, “debates de boteco”. Conversas de família, amigos, salas de aula e afins.

Enfatizando o meu modo de ver, o científico, droga, em seu conceito original, é toda e qualquer substância, natural ou sintética que introduzida no organismo modifica suas funções (aqui copiado ipsis litteris da básica Wikipédia). Nesse sentido é incontestável que TODAS as pessoas usam drogas. Ampliando o conceito, o termo drogas é comumente utilizado para se referir às substâncias, sintéticas ou naturais que possuem efeitos psicoativos causando alteração da percepção e/ou consciência.

Ainda assim, arrisco a dizer que TODOS usam, ou á usaram, drogas. As licitas como café, chocolate, álcool, cigarro, benzodiazepínicos (os “calmantes”), antidepressivos, antipsicóticos; ilícitas naturais ou sintéticas como maconha, cogumelos, cactos, LSD, cocaíana/crack/oxy, ecstasy, entre tantas outras.
Retomando os “debates de boteco”, é engraçado como os usuários de determinado droga (legal ou ilegal) defendem a sua droga ferrenhamente quando em comparação com outra droga, a qual, no juízo de valor dessa pessoa é pior que a que outra usa. Nesse momento surge uma frase constante nesses debates: “ah, mas é diferente!!!”. Explico. Peguemos o clichê da maconha:

- Mas você é contra a legalização da maconha, no entanto você fuma e bebe, ambos são drogas não é mesmo?
 -[olhar de reprovação/indignação] Ah, mas é diferente!!!

Assunto, normalmente, encerrado por um silêncio indignado do lado oposto, mas conformado com a falta de concordância com os seus argumentos.

Avançando, pense nos pró legalização da maconha sendo questionados sobre o crack:

 - Mas você fuma maconha e ela é ilegal, então é a favor da legalização do crack então?
 - [olhar de reprovação/indignação] Ah, mas é diferente!!!

E lá se vai mais uma conversa encerrada.

Convido a todos a avançar mais! Continuem o diálogo de maneira simples, aqui com lacunas para completar para que você adéqüe ao tipo de droga que desejar defender:

- Mas você é contra a legalização da(o)________, no entanto você ________________, não é mesmo?
 -[olhar de reprovação/indignação] Ah, mas é diferente!!!
 - Diferente... Como?
 - ____________________________________________________________________
...
Não vejo a hora de observar os próximos “debates de boteco” e ver essa lacuna completada. Será um avanço no debate, que andam tão rasos ...