sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Carta de Repúdio à mesa da SBPC

Após contato com a SBPC e site G1, sem sucesso, venho por intermédito de uma sociedade associada a SBPC e que tem um canal de expressão democrático disponível a todos os sócios, manifestar MINHA OPINIÃO PESSOAL.
Como sócio da SBPC venho aqui manifestar meu total desacordo com postura apresentada pelos senhores Laranjeira, Roselli e Asinelli apresentada na mesa:
“Dependência de drogas: o enfrentamento que queremos”. Não é de hoje que acompanho embasbacado a postura retrógrada, medieval e obscurantista do senhor Ronaldo Laranjeira que, diga-se de passagem, já provou por diversas vezes, em público, total despreparo e desconhecimento da causa que defende. Aproveita-se do título de professor doutor, da cátedra acadêmica para se intitular cientista e de sua prática como médico psiquiatra, para prestar um desserviço à ciência brasileira. Quando vai à mídia despeja turbilhões de inverdades científicas. Recentemente em sua entrevista no programa Roda Viva (pode ser vista no link), fica evidente tamanho despreparo ao debater com a senhora Ilona, pesquisadora idônea de postura bem fundamentada representante do Instituto Igarapé e da Rede Pense Livre. Laranjeira inventa dados sobre o consumo de maconha no estado do Colorado, nega os milhares de artigos científicos apontando o potencial medicinal da Cannabis sativa e se contradiz.
Mais surpreendente é o editorial recentemente publicado no prestigiado periódico Addiction no qual apresenta postura COMPLETAMENTE oposta (e que concordo inclusive) ao que vem defendendo há anos na mídia, nos cargos que atua no município de São Paulo bem como no estado e nos parcos de bates que participa. No editorial: “Compulsory detention, forced detoxification and enforced labour are not ethically acceptable or effective ways to treat addiction” Addiction. volume 107, Issue 11, pages 1891–1893, November 2012; destaco o parágrafo:
Compulsory detention of addicted individuals has either been abandoned or fallen into disuse in most developed countries for two main reasons. First, it failed to treat addiction effectively, with most people detained returning to drug use after release. Secondly, this approach has been criticized for violating the human rights of drug users. The few developed countries that still detain addicted people compulsorily—such as Russia and Sweden do so in the absence of rigorous evaluations of the efficacy or safety of this approach.”
 Ainda, na reportagem do site G1, reproduzida pelo Jornal da Ciência (e-mail), apresenta um discurso que contradiz a si próprio evidenciado a falta de discernimento entre liberação e legalização. Quando fala sobre o cigarro – Não vamos convencer alguém a parar de fumar, mas criar constrangimentos sociais para evitar que ele fume, como leis que restringem locais para fumantes. Atuar também no preço e promoção do produto” está defendendo uma política regulatória, na qual é evidente que só pode ser feita com uma droga legalizada, isto é trazida para a lei, podendo assim ser regulada.
Na mesa da SBPC os três senhores fizeram o popular “chover no molhado” onde falaram, falaram, e não disseram absolutamente nada. Criticam as políticas públicas, falam em prevenção e combate, jamais apresentando qualquer estratégia inovadora.
Por essas e outras tantas me envergonha que a SBPC, sigla na qual o ‘P’ refere-se à Progresso, tenha aceitado uma mesa com esses três senhores que não possuem um pingo de progresso em seu discurso conservador.
Graças à postura de senhores como Ronaldo Laranjeira, a ciência brasileira está 50 anos atrasada na pesquisa de drogas. É impossível importar psicofármacos para pesquisa científica no Brasil e isso é um reflexo da política proibicionista medieval que temos nesse país.
Endossar a visão desse senhor que se diz cientista é um tiro no pé do progresso preconizado pela SBPC. Um homem que mente, inventa dados e se contradiz o tempo todo não pode estar representando a SBPC no CONAD (o qual outrora foi representada pelo nobre e de caráter inquestionável Professor Elisaldo Carlini). Laranjeira sequer sabe o nome da entidade o qual é conselheiro; em seu Lattes diz ser conselheiro do “Conselho Nacional AntiDrogas”, nome antigo da entidade (agora chamada de Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas). Isso só demonstra mais uma vez o quão desatualizado esse senhor é.
 Finalizando, peço em meu nome e de quem mais abaixo assinar o desligamento imediato de Ronaldo Laranjeira da SBPC, como conselheiro e como membro, tendo em vista todos os conflitos de interesse que esse senhor tem com a proibição das drogas responsável pelo aumento diário do crime e da morte indo totalmente contra ao Progresso proposto pela nossa SBPC.
Atenciosamente,

Douglas Senna Engelke
Doutorando em Neurologia/Neurociências pela UNIFESP.